domingo, 20 de abril de 2008

Projeto Dom Quixote

Tempo-Espaço e Memória
Dom Quixote de La Mancha

Em 2005, foram comemorados os quatrocentos anos da publicação da primeira parte do romance "O engenhoso Cavaleiro Dom Quixote de la Mancha", de Miguel de Cervantes. Passaram-se quatro séculos, pois esta obra-prima da literatura espanhola e universal foi editada pela primeira vez em 1605, em plena vida de seu notável autor, Miguel de Cervantes Saavedra, nascido em Alcalá de Henares, às proximidades de Madri, Espanha, em 1547.
Cervantes não escreveu apenas o romance "Dom Quixote". Este foi sua obra mais famosa, cuja segunda parte foi publicada em 1615. Entre as duas publicações, correu na Espanha uma versão apócrifa, que seria uma continuação da primeira parte do "D. Quixote", publicada sob o pseudônimo Alonso Fernández de Avellaneda, em 1614, fato que muito aborreceu Cervantes, sentimento que o autor exprime na própria narrativa de seu romance. Cervantes foi, além de romancista, poeta, autor de peças de teatro, aventureiro, soldado.
Assim, publicou, também, "La galatea" (1585), em prosa e versos, que teve um bom sucesso na recepção em seu país; "Novelas Exemplares" (1613), romanesco e novelas irônicas e sátiras, que teve sucesso imediato; "Viaje del Parnaso" (1614); "Ocho comedias y ocho entremesses nuevos, nunca representados" (1615), arte dramática, tendo havido, ainda, a publicação póstuma de "Os trabalhos de Persiles y Sigismunda" (1617), romanesco que também teve sucesso.
Porém, a obra-prima de Cervantes foi o "Dom Quixote" em suas duas partes. O curioso foi que o autor desta obra grandiosa, antes de receber, em vida, a láurea do amplo reconhecimento pelo público em sua pátria, teve grande sucesso no exterior, com traduções muito bem recebidas do romance para o inglês, o francês, o alemão e o italiano. Logo foi publicada, também, em Bruxelas e em Lisboa. Aos poucos veio a conquistar a fama em seu próprio país, onde Cervantes tinha inimigos, inclusive entre os escritores, como no caso de Lope de Vega ("El arte nuevo de haver comedias", 1609), seu grande rival.
Miguel de Cervantes também levou uma vida de aventuras, fugiu para a Itália, onde trabalhou para um ilustre monsenhor, e, como soldado do exército de Felipe II, lutou na batalha de Lepanto contra os turcos, evento no qual sua mão esquerda foi ferida e ficou imobilizada para o resto da vida. Tendo sido capturado por corsários na costa espanhola, foi levado para a Argélia, onde ficou durante cinco anos como cativo. De volta ao seu país, casou com Catalina de Salazar. Foi coletor de impostos e, depois, foi preso em Sevilha. Veio a fazer parte da Ordem Terceira de São Francisco. Cervantes morreu, em Madri, em 1616, talvez no mesmo dia da morte de Shakespeare.
Cervantes era um grande leitor. Procurava ler tudo que caía em suas mãos, tais como os romances de cavalaria, mas não apenas esses, como também outras obras importantes de seu tempo e do passado clássico greco-romano. Conheceu o pensamento de Aristóteles, especialmente sobre estética. Apesar de seu notável valor como escritor, sempre viveu em dificuldades financeiras.
As obras de Cervantes, especialmente, o "D. Quixote", foram criadas com grande rigor estilístico, seguindo os cânones renascentistas. Com "O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha", Miguel de Cervantes se tornou o fundador do romance moderno. Em verdade, ao escrever a narrativa ficcional sobre o engenhoso fidalgo, Cervantes utilizou e desvelou sua engenhosidade, gerando esta concepção romanceada repleta de alegorias e de metáforas de que estão impregnados seus personagens principais, D. Quixote e Sancho Pança, em seus comportamentos, em suas falas e em suas aventuras sempre curiosas e surpreendentes. Qual a idéia central que Cervantes desenvolve no "D. Quixote", a qual se exprime por intermédio das posturas e atitudes de seus personagens? Trata-se de um tratado sobre a loucura de um homem que vive a cometer desvarios?
Um simples aldeão, Alonso Quijada, ou Quesada, ou Quijana, ou seja, aquele que viria a se tornar o cavaleira andante D. Quixote, era um leitor insaciável (como seu criador) de obras em geral, mas, especialmente, de romances de cavalaria. O próprio autor descreve seu personagem-tipo: "Orçava na idade o nosso fidalgo pelos cinquenta anos. Era rijo de compleição, seco de carnes, enxuto de rosto, madrugador, e amigo da caça."
Foi esse personagem que, por decisão racional ou insana, veio a tornar-se um cavaleiro andante, figura dramática (ficcionalmente) real, mas idealizada por ele e assimilada a partir das leituras dos romances de cavalaria, para viver as aventuras de um Amadiz de Gaula, de um Cid ou de um Orlando. Fez-se sagrar-se cavaleiro em uma (falsa) cerimônia dirigida por um taverneiro e atribuiu-se o título nobiliárquico Dom. Assim, em uma representação cômica de realidade ilusória, constituiu-se em um "herói" da cavalaria, papel que passa a protagonizar.Na época retratada no romance, essa expressão simbólica da cultura e da sociedade medieval, a cavalaria, já se encontrava fora de moda e decadente. Cervantes, com sua produção romanesca, procurou, com êxito, criticar esses resíduos da instituição medieval, ridicularizando-a.
D. Quixote adota como escudeiro um seu vizinho camponês, Sancho Pança, homem muito simples, porque um cavaleiro andante não podia dispensar essa companhia. E, vestindo armadura e capacete, portando um escudo e um bordão como lança, todas peças improvisadas, partiu pelas estradas e caminhos da Mancha, montado em seu velho cavalo Rocinante, acompanhado do escudeiro Sancho Pança, que o seguia montado em seu burrico.Seguindo pelos caminhos, o cavaleiro andante envolveu-se em aventuras ora românticas, como nos episódios impregnados de seu amor pela sua Dulcinéia, ora, de bravura e coragem, ao enfrentar em lutas de cavalaria inimigos reais ou imaginários, ou, como um paladino, procurando fazer justiça aos injustiçados e oprimidos.Foram muitos os episódios marcados pelo delírio nos quais D. Quixote considerava estar ante terríveis inimigos com os quais teria que lutar para derrotá-los; no entanto, na maioria das vezes, tratava-se de inimigos imaginários, ilusórios. Quer nesses episódios de delírio, quer em situações reais, quase sempre, o nosso "herói" se saía mau, estropiado e em condições ridículas. São muitas essas lutas, como na que entreteve contra os odres de vinho; na batalha contra as ovelhas; no entrechoque com os marionetes de mestre Pedro; ou mesmo no duelo contra um inimigo real como o cavaleiro dos espelhos, e outros. O mais conhecido e falado desses entreveros, entretanto, foi a luta contra os moinhos de vento, no quais o "cavaleiro da triste figura" (cognome que lhe foi atribuído por Sancho) julgava ver gigantes inimigos.
Na descrição ficcional da loucura de D. Quixote, Cervantes caminha pelas trilhas deixadas por Ariosto em seu "Orlando Furioso" (1532). Mas, no texto cervantino também há momentos de grande beleza, como quando, encontrando D. Quixote uma humilde e feia camponesa, pensa que tem ante si sua adorada e linda Dulcinéia, de Toboso; ou como ocorre na narrativa fantasiosa do episódio da cova ou gruta de Montesinos. D. Quixote desceu só à gruta e lá ficou, sem se alimentar durante dias e, quando de lá saiu, narrou as aventuras das quais havia participado sem o testemunho de seu fiel escudeiro. São momentos de extremada beleza na riqueza da linguagem e das fantásticas imagens episódicas vividas em delírio, sonhos, visões.
D. Quixote é um personagem culto, que tem prazer em fazer citações de autores importantes e, de usar abundantemente os provérbios e máximas. Aliás, Sancho Pança, em sua simplicidade e humildade, também, se manifesta um ser inteligente, que também sabe manejar os provérbios populares. Ele é o contraponto do cavaleiro andante, pois, enquanto este varia entre momentos marcados pela razão e aqueles em que se encontra totalmente transtornado pela irrealidade da loucura, o escudeiro está quase sempre presente para tentar trazer D. Quixote ao mundo real, mundo este que é percebido pelo "herói" como distorcido por encantadores. Sancho Pança é movido, não pelo espírito de aventura como o cavaleiro Quixote; ele ambiciona ser "dono" de uma ilha, a qual D. Quixote lhe havia prometido como recompensa por sua adesão em ser seu escudeiro. Ocorre que, nas andanças do cavaleiro e seu escudeiro pelas estradas espanholas - para percorrer as quais D. Quixote saiu de sua casa por três vezes -, chegaram a um castelo, cujo nobre castelão, que já conhecia a fama quixotesca, recebeu os caminhantes, porém com ar de mofa. Sabendo da promessa que Dom Quixote havia feito a seu escudeiro, com espírito de zombaria, "nomeou" Sancho Pança "governador" da "ilha Barataria", na realidade, uma aldeia situada em suas terras. Sancho assumiu a função e, para surpresa geral, saiu-se muito bem e com competência na gestão administrativa e nas arbitragens de pendências entre os súditos. Cervantes, como se vê, em sua obra de ficção principal, fez a crítica de uma sociedade decadente, que, em sua época, passava pelo deslocamento dos padrões de vida feudais da Idade Média para a modernidade; tomou a loucura de seu personagem principal como o fio condutor da narrativa, na qual faz uso de oposições binárias tais como: aparência e realidade, falso e verdadeiro, sanidade e loucura, que são o pano de fundo em que transcorrem os embates, as visões, os delírios, mas também os momentos de razão de D. Quixote, personagem quase sempre ingênuo, ridículo, anedótico, o anti-herói que vive em seu mundo ilusório. Porém, D. Quixote, mesmo com seus arroubos insanos, comporta-se sempre como um ser ético, que pauta seus comportamentos dentro da rígida moral própria da cavalaria e que busca concertar a sociedade em que vivia, como um paladino do bem, que não podia presenciar injustiças. Em sua estilística rigorosa nos padrões clássicos renascentistas, Cervantes instituiu um arquétipo, o modelo-tipo do quixotesco, em que se enquadram determinadas pessoas, tais como aquelas que, corajosamente, criam, vêem e enfrentam inimigos mesmos que eles sejam ilusórios, inexistentes; seres ingênuos, sonhadores, que podem se envolver em situações complicadas ou desastradas nem sempre racionalmente explicáveis. O "Dom Quixote" é uma obra perene, seminal, que está sendo sempre recriada pelas traduções, por adaptações para o teatro, para o cinema, para livros infanto-juvenis e pelas interpretações que faz da obra cada um de seus leitores.
Os personagens de Cervantes, principalmente o D. Quixote, foram motivos de obras célebres de artistas tais como David, Doré, Daumier, Cézanne, Picasso, Dali, Portinari, Pollock, além de outros. A obra-prima de Cervantes pode ombrear-se com a "Divina Comédia", com o "Orlando Furioso", com o "Hamlet", encontrando-se o autor no panteon dos grandes escritores da humanidade ao lado de Dante Alighieri, Ludovico Ariosto e William Shakespeare.


Projeto Resgate da Leitura na sala de aula
Dom Quixote
Oficinas: Espanhol, Hora da Leitura, Arte, Informática e Orientação para Estudo e Pesquisa
Professores: Carol, Andréia, Elisângela, Márcia, Ellen Carla e Luciane.
Série: 5ª a 8ª

Objetivos:
Pesquisa sobre a biografia de Miguel de Cervantes, situando-o em sua época;
Estimular a leitura dos alunos do romance e de adaptações em outros gêneros como quadrinhos, teatro e poesia.
Discutir o romance em roda de conversa
Recontar a história, tendo os alunos como autores.
Elaborar resenha crítica sobre o livro.

Habilidades:
Desenvolver a competência leitora e escritora do educando de forma autônoma e consciente.

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